Parte III
ALUVAIÁ
“Sai-te daqui Aluvaiá, que aqui não é o teu lugar.
Aqui é uma Casa santa, não é lugar de Exu morar."
Aluvaiá - é o nome pelo qual é conhecido o Orixá Exu no Candomblé de Nação Angola: é o Nkisi Aluvaiá. O Nkisi Aluvaiá tem semelhanças com o Orixá Exu dos Yorubás (Ketu). Ele revela-se o mais ‘humano’ dos Inkisi, nem completamente mau, nem completamente bom.
CURIAR
“Estava curiando na encruza
quando a Banda me chamou...”
Curiar - significa observar ou espiar algo ou alguém.
LÓ
“Cambono, camboninho meu, meus cambonos,
olha que o Exu vai ao ló...
Vai, vai, vai,
ele vai numa gira só.”
Ló - trata-se de uma palavra do idioma Yorubá, que significa partir. Neste caso, partir tem o sentido de desincorporar, ir para o além, se referindo mesmo a "cantar pra subir", é o ato ou momento da Entidade subir (desincorporar).
MOJUBÁ / INA (ENA)
Todos Exus são Mojubá,
Ina ina, Mojubá, ina, ina Mojubá
Ina, ina, Mojubá!
No dialeto Yorubá, Mojubá significa “meus respeitos”, sendo escrito da seguinte forma: "Mo jubá". Nesse sentido, alguns estudiosos dão o significado como: “apresentando o meu humilde respeito”. Outros entendem que a palavra deve ser usada como sinônimo de “rei” ou “grande”, numa referência ao reconhecimento da grandeza e magnitude da entidade Exu. Contudo, na Umbanda, usamos essa saudação a Exu e Pomba-Gira, dizendo: Exu/ Pomba-Gira Mojubá ou Exu/ Pomba-Gira é Mojubá, como referência a: “Exu/ Pomba-Gira eu te saúdo” ou “Exu/ Pomba-Gira eu te reverencio” ou “Exu/ Pomba-Gira, a Vós os meus respeitos”. Para saudar a chegada de Exu/ Pomba-Gira no Terreiro, é usual utilizarmos a frase: “Laroiê, Exu/ Pomba-Gira. Exu/ Pomba-Gira é Mojubá”, que significa: Mensageiro, Exu/ Pomba-Gira, a Vós o nosso respeito” (Laroiê = mensageiro, pois Exu/Pomba-Gira são os que comunicam aos homens a vontade dos Orixás e, a estes, leva o pedido dos homens).
O termo “ina” (fala-se inã) - é yorubá e significa fogo. Contudo, a quase totalidade dos Terreiros de Umbanda e Candomblé usa erroneamente o termo “ená” – mas, de tanto se cantar com essa entoação, a palavra acabou ficou abrasileirada, adotando-se como correta também o termo “ena” (“ena, ena, é Mojibá”).
ODARA
Odara, morador da encruzilhada,
firma o seu ponto com sete facas cruzadas...
Odara é um termo usado para designar algo ou alguém que é belo, formoso. Em Yorubá se escreve "o dara" e seu significado: é bom! Na cultura hindu, odara significa paz e tranquilidade. No Candomblé, Odara é uma das qualidade de Exu, como também Akesan, Lalu, Ibarabo, Yangi, Barangola, Lonan e Ianxu.
SAMBORÊ
“Eu abro a nossa gira, com Deus e Nossa Senhora.
Eu abro a nossa gira, samborê, pemba de Angola.”
Samborê - vem do Cabula e do Omolokô e significa ‘pular com alegria’. Nos Terreiros, designa um momento de grande energia, sendo cantado para a firmeza dos trabalhos.
KIMBANDA OU QUIMBANDA
"Tumba lelê, eu quero a Kimbanda..."
Há três significados para o termo Kimbanda/Quimbanda:
a) Kimbanda com influência africana (Banto) = Kimbanda é um tipo de Xamanismo Bantu (abrange a região de Angola, Congo e Cambinda), em que o chefe da tribo é chamado de Kimbanda ou Kimbandeiro (interpreta os espíritos da natureza, é um Xamã): o Exu é considerado o Executor da Lei e, por isso, só faz o bem. Com base nisso, alguns passaram a entender que a Umbanda abrange os Orixás da Direita e a Kimbanda, os da Esquerda.
Portanto: Umbanda é o todo, é Direita e Esquerda
(nesse sentido, a Kimbanda pode ser entendida como parte da Umbanda).
b) Lourenço Braga e seus seguidores = entendem que a Umbanda é sinônimo de Magia Branca e Quimbanda de Magia Negativa (negra).
Portanto: neste contexto, a Umbanda combate a Quimbanda,
é o oposto dela.
c) Aluízio Fontenelle = na Europa havia a prática da magia branca que trabalhava com os Anjos (Teurgia) e da magia negra que trabalhava com os demônios (Goércia). Considerava-se que aquele que trabalhava com a alta magia dominava a Teurgia e a Goércia (pois os Anjos trariam as coisas espirituais e os demônios, as materiais).
Aluízio trouxe isso (1950), demonizou Exu, sincretizando o demônio ao Exu. Para ele, a Umbanda é formada pelos Orixás da Direita e a Quimbanda por Exu, sendo este considerado um demônio. Nesse sentido, os Orixás da Direita seriam osAnjos e os da Esquerda, os demônios. Então, com a força dos Orixás poder-se-ia forçar os demônios a fazerem a vontade do consulente – e ele considerava isso como alta magia de Umbanda.
Sendo Exu uma divindade ligada à fertilidade, à sexualidade e à virilidade, tendo uma personalidade mais irreverente e aberta, não tardou para que fosse associado ao demônio bíblico/católico. Assim o Exu foi visto como um espírito a ser temido por todos.
Portanto: a Umbanda repudia essa versão, pois o mistério Exu é formado por Trabalhadores da Luz assentados à Esquerda do Criador e, por isso, só praticam o bem, como todos os Orixás e Falangeiros da Umbanda.
Em decorrência dessas concepções divergentes, passou-se a escrever a mesma palavra, mas de duas formas diferentes: iniciando com "K" (Kimbanda) para se referir à magia positiva e com "Q" (Quimbanda) em referência à magia negativa. Nesse sentido, com o passar do tempo, alguns Terreiros que só trabalhavam com Exu se intitulavam Kimbanda, outros que trabalham com magia negra, se chamam de Quimbanda e praticavam os seus cultos escondidos, como páreas da sociedade do bem.
Nós não somos praticantes da Quimbanda, não somos quimbandeiros, a Umbanda, como todas as religiões sérias, visa à evolução dos seres e, assim, só pratica o bem, tendo a prática a caridade (fazer o bem ao outro) o seu principal fundamento.
Nós somos Umbandistas. O que há de kimbanda para nós só pode se referir à Esquerda da Umbanda, como por exemplo, há o Caboclo kimbandeiro, o Preto-Velho kimbandeiro = são Falangeiros que trabalham cruzados com as Entidades da Esquerda. Para nós, só há essa versão da kimbanda na Umbanda, pois não somos kimbanda, somos Umbanda: havemos de pensar, sempre, na Umbanda com cabeça de Umbandista.